A Humilhação e Exaltação de Cristo

08/02/2021

Nota do Editor

O tema desta mensagem "A Humilhação e Exaltação de Cristo"  e o conteúdo da mesma são de autoria do Rev. Hernandes Dias Lopes, disponibilizada em seu site ¹. Fizemos uma breve edição de algumas frases para adequação ao nosso nível de aprendizagem.

Site ¹ -  https://hernandesdiaslopes.com.br/

Texto de Fundamento: Fp 2:6-11 é o texto clássico da Cristologia na Bíblia.

INTRODUÇÃO

1. A doutrina sempre deve estar conectada com a vida

William Barclay diz que esta é a passagem mais importante e mais emocionante que Paulo escreveu sobre Jesus.

O contexto de Filipenses revela-nos que Paulo está tratando de um problema prático na vida da igreja, exortando os crentes à unidade. Ou seja, Paulo está expondo seu pensamento teológico mais profundo para resolver um problema de desunião dentro da igreja.

A igreja precisa pensar biblicamente. O sistema de pensamento da igreja deve necessariamente converter-se em um caminho de vida.

A intenção de Paulo está em persuadir e impulsionar os filipenses a viverem uma vida livre de desunião, desarmonia e ambição pessoal.

2. A vida de Cristo é o exemplo máximo para a igreja

Paulo corrige os problemas internos da igreja de Filipos não apenas lhes oferecendo conceitos doutrinários, mas mostrando-lhes o exemplo de Jesus Cristo.

O melhor tratamento para curar os males da igreja é espelhar-se em Jesus; aprender com seu exemplo, imitando seu comportamento diante dos dilemas e confrontos diários em seu ministério nesta terra. (Mt 11.29; Jo 13.12-17; 13.34; 21.19)

I. A HUMILHAÇÃO DE CRISTO (2.6-8)

1. Jesus Cristo voluntariamente abriu mão de seus direitos (2:6)

Jesus antes da sua encarnação sempre foi Deus, co-igual, coeterno e consubstancial com o Pai e com o Espírito Santo.

Jesus sempre foi revestido de glória e majestade (Jo 17.5). Ele é o criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis (Cl 1.16).

Ele sempre foi adorado pelos anjos nas cortes celestiais.

A expressão "subsistindo em forma de Deus" (2:6) é muito importante para entendermos a divindade de Cristo.

A palavra "subsistindo"(hyparquein) descreve aquilo que é essencial e que não pode ser mudado; aquilo que possui uma forma inalienável. Descreve características inatas, imutáveis e inalteráveis.

Paulo começa dizendo que Jesus é Deus em forma essencial, inalterável e imutável. O apóstolo continua dizendo que Jesus "subsistia em forma de Deus".

Há duas palavras gregas para forma: morphe e schema.

  • Morphe é forma essencial de algo que jamais se altera;
  • schema é a forma externa que muda de tempo em tempo e de circunstância em circunstância.

A palavra que Paulo usa com referência a Jesus é morphe. Jesus está de maneira inalterável na forma de Deus; sua essência e seu ser imutável são divinos.

Paulo está dizendo em Filipenses 2.6 que Cristo Jesus sempre foi (e continuará sempre sendo) Deus por natureza, a expressa imagem da Divindade.

Jesus sempre foi Deus (Jo 1.1; Cl 1.15; Hb 1.3). Ele sempre possuiu toda a glória e louvor no céu. Junto com o Pai e o Espírito Santo, Jesus sempre reinou sobre o universo.

Existe outra verdade gloriosa exposta no versículo 6.

O apóstolo Paulo diz que Jesus "não julgou como usurpação o ser igual a Deus", ou seja, não considerou a sua igualdade com Deus como "um privilégio que deveria se apegar egoisticamente".

A palavra grega aqui traduzida por "usurpação" é harpagmos. Essa palavra só aparece aqui em toda a Bíblia. Ela provém de um verbo que significa arrebatar ou aferrar-se (agarrar-se com afinco).

F. F. Bruce interpreta corretamente essa questão, quando diz:

Não existe a questão de Cristo tentar arrebatar, ou apoderar-se da igualdade com Deus: ele é igual a Deus, porque o fato de ele ser igual a Deus não é usurpação;

Tampouco existe a questão de Cristo tentar reter essa igualdade pela força. Cristo é Deus em sua natureza.

A questão fundamental é: Jesus Cristo não usou sua igualdade com Deus como autopromoção; ao contrário, ele a usou como ocasião para renunciar a todas as vantagens ou privilégios que a divindade lhe proporcionava; ele a usou como oportunidade para autossacrifício sem reservas.

Jesus não pensou em si mesmo; ele pensou nos outros. Ele abriu mão de sua glória, desceu das alturas e, usou seus privilégios para abençoar os outros.

2. Ele se esvaziou (2:6,7)

O Filho de Deus deixou o céu, a glória, seu trono, e fez-se carne, fez-se homem, se encarnou.

O verbo grego kenou "se esvaziou", literalmente significa "tirar algo de um recipiente até que fique vazio" ou "derramar algo até que não fique nada".

Paulo usa aqui a palavra mais gráfica possível para que se faça patente o sacrifício da encarnação.

Do que Cristo se esvaziou?

Certamente não foi da sua existência "na forma de Deus". Isso seria impossível. Jesus Cristo continuou sendo o Filho de Deus, mas renunciou seu ambiente de glória.

Ele pôs de lado sua majestade e glória (Jo 17.5), mas permaneceu Deus. Ele jamais deixou de ser Deus.

Mesmo em seu estado de humilhação Jesus jamais se despojou de sua divindade.

Então, do que Cristo se esvaziou?

Em primeiro lugar, Jesus renunciou sua glória celestial.

Ele tinha glória com o Pai antes que houvesse mundo (Jo 17.5).

Mas, voluntariamente deixou a companhia dos anjos e veio para ser perseguido e cuspido pelos homens.

Em segundo lugar, ele renunciou suas riquezas. O apóstolo Paulo diz:

"Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo
rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos" (2Co 8.9).

Jesus renunciou tudo, até mesmo sua própria vida (Jo 10.11).

Tão pobre ele era que tomou emprestado um lugar para nascer, uma casa para pernoitar, um barco para pregar, um animal para cavalgar, uma sala para reunir e um túmulo para ser sepultado. Pense nisso.

Em terceiro lugar, ele renunciou sua relação favorável à lei divina. Enquanto permanecia no céu nenhuma carga de culpa pesava sobre ele. Entretanto, ao encarnar-se, ele que não conheceu pecado, se fez pecado por nós (Jo 1.29; 2Co 5.1); Ele que era bendito eternamente se fez maldição por nós (Gl 3.13) e levou sobre seu corpo, no madeiro, todos os nossos pecados (1Pe 2.24).

Em quarto lugar, ele renunciou o livre exercício de sua autoridade.

Ele voluntariamente se submeteu ao Pai e diz:

"Eu não procuro a minha própria vontade, e, sim, a daquele que me enviou" (Jo 5.30).

Paulo está ensinando a igreja de Filipos acerca da humildade nos relacionamentos, citando o exemplo de Jesus Cristo, sobre o mistério da humilhação do Filho de Deus.

Perguntamos:

Será que havia alguém na igreja em Filipos que deveria doar, ceder, tornar-se humilde, seguindo o exemplo de Jesus?

Diante do exemplo de humilhação e servidão de Jesus, será que um membro da igreja ainda pode reivindicar quaisquer direitos no serviço a Deus?

3. Ele serviu (2:7)

O eterno Filho de Deus não nasceu num palácio. O Rei dos reis não nasceu num berço de ouro nem entrou no mundo por intermédio de uma família rica e opulenta Ao contrário, ele nasceu num berço pobre, numa família pobre, numa cidade pobre.

Jesus nasceu numa manjedoura, cresceu numa carpintaria e morreu numa cruz.

Ele não veio ao mundo para ser servido, mas para servir (Mc 10.45). Pense nisso!

Jesus serviu aos pecadores, às meretrizes, aos cobradores de impostos, aos doentes, aos famintos, aos tristes e enlutados.

4. Ele se tornou em semelhança de homens (2:7)

O Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1:1). Aquele que era Deus desde toda a eternidade tomou a forma de um homem num particular momento da história.

Lamentavelmente, os homens não reconheceram Jesus como deveriam. Ainda que toda a vida de Jesus, particularmente, suas palavras e atos poderosos manifestassem "a divindade velada na carne humana", de um modo geral, os homens rejeitaram suas reivindicações e O odiaram ainda mais por causa delas (Jo 1.11; 5.18; 12.37).

II. A EXALTAÇÃO DE CRISTO (2:9-11)

1. É obra de Deus (2.9)

O apóstolo Paulo mostra a transição da humilhação à exaltação de Cristo.

O mesmo que se humilhou foi exaltado e essa exaltação lhe foi dada pelo Pai.

O caminho da exaltação passa pelo vale da humilhação; a estrada para a coroação, passa pela cruz. O Pai Celeste exalta aqueles que se humilham (Mt 23.13; Lc 14.11; 18.14; Tg 4.10; 1Pe 5.6).

Foi por causa do sofrimento da morte que essa recompensa foi dada a Jesus (Hb 1.3; 2.9; 12.2), diz William Hendriksen.

Deus não deixou Cristo na sepultura, mas levantou-o da morte, levou-o de volta ao céu e o glorificou (At 2.33; Hb 1.3).

O Pai Celeste deu a Jesus "toda autoridade no céu e na terra" (Mt 28.18).

Deu a ele autoridade para julgar (Jo 5.27) e fê-lo senhor de vivos e de mortos (Rm 14.9), fazendo-o assentar à sua destra, acima de todo principado e potestade, constituindo-o a cabeça de toda a igreja (Ef 1.20-22).

Fica claro que esta elevação de Jesus não foi a restituição da natureza divina, porque ele jamais a renunciou, mas foi a restituição da glória eterna que tinha com o Pai antes que houvesse mundo; glória, da qual voluntariamente Jesus havia se despojado (Jo 17.5,24).

2. É uma exaltação incomparável (2:9)

A expressão "o exaltou sobremaneira" só pode ser aplicado a Cristo.

O significado desse verso é "super exaltado". Deus, o Pai enalteceu o Filho de uma forma transcendentemente gloriosa. Soergueu-o à mais elevada excelsitude.

Se os salvos vão para o céu, Cristo ultrapassou os céus (Hb 4.14), foi feito mais alto que os céus (Hb 7.26) e subiu acima de todos os céus (Ef 4.10).

A exaltação incomparável de Cristo constitui-se no fato dele ter recebido um nome que está acima de todo nome (2.9). Ele recebeu este nome por herança (Hb 1.4) e por doação (2.9).

O nome de Jesus, agora, é possessão da igreja.

Jesus Cristo é o Senhor. O Filho de Deus é chamado de Senhor mais de seiscentas vezes no Novo Testamento. Somente os que confessam que Jesus é Senhor podem ser salvos. A Bíblia diz que quem tem o Filho tem a vida.

3. A exaltação de Jesus Cristo exige a rendição de todos (2:10)

William Hendriksen diz que em seu regresso em glória, Jesus será adorado por toda corporação de seres morais, em todos os setores do universo. Os anjos e os seres humanos redimidos farão isso com intenso regozijo, enquanto os condenados farão isso com profunda tristeza e profundo remorso (Ap 6.12-17).

Na segunda vinda de Cristo todo o joelho vai se curvar diante do poderoso nome de Jesus no céu (os anjos e os remidos), na terra (os homens) e nas regiões inferiores (demônios e condenados).

Naquele dia todo joelho vai se dobrar, toda língua vai confessar que Jesus é Senhor, mas nem todos serão salvos.

  • Com júbilo se ajoelharão aqueles que foram salvos por Cristo.
  • Com pavor cairão de joelhos aqueles que o rejeitaram!

4. É uma exaltação proclamada universalmente (2:11)

Toda língua vai confessar que Jesus é Senhor. Jesus é o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, o Todo-poderoso Deus, diante de quem os poderosos deste mundo vão ter que se curvar e confessar que ele é SENHOR.

Na segunda vinda de Cristo nenhuma língua ficará silenciosa, nenhum joelho ficará sem se dobrar. Todas as criaturas e toda a criação reconhecerão que Jesus é Senhor (2.11; Ap 5.13).

Essa confissão será pública e universal. Todo o universo vai ter que se curvar diante daquele que um dia se humilhou, mas foi exaltado sobremaneira!

5. É uma exaltação que tem um propósito estabelecido (2:11)

A exaltação de Jesus tem dois propósitos claros:

Em primeiro lugar, que todos, em todo o universo, reconheçam o senhorio de Jesus Cristo.

Deus o exaltou, o fez assentar à sua destra e o constitui o Senhor absoluto do todo o universo. Importa que todos, em todos os lugares, de todos os tempos reconheçam e confessem que Jesus é Senhor. (At 2.36; Rm 10.9; Ap 17.14; 19.16).

Em segundo lugar, que o Pai seja glorificado pela exaltação do Filho. O fim último de todas as coisas é a glória de Deus (1Co 10.31).

Paulo há havia advertido a igreja contra o pecado da vanglória (2.3). Toda a glória que não é dada a Deus é glória vazia, é vanglória.

  • Cristo se humilhou e suportou a cruz para a glória de Deus (Jo 17.1).
  • Jesus ressuscitou e foi exaltado para a glória de Deus (2.11).

Ralph Martin sintetiza esse glorioso pensamento de forma sublime:

O senhorio de Cristo não compete com o de Deus, nem a entronização do Filho ameaça a monarquia única do Pai. Cristo rege para a glória de Deus Pai. Sua soberania é dom do Pai (2.9).

CONCLUSÃO

Toda a vida e obra de Jesus não apontam para sua glória pessoal, mas objetiva a glória de Deus. Jesus é o nosso modelo e exemplo a ser seguido.

Na igreja de Filipos havia alguns crentes que tinham o propósito de satisfazer suas ambições egoístas. Porém, o único propósito de Jesus era servir a outros ainda que isso tenha lhe custado a maior de todas as renúncias.

Enquanto alguns membros da igreja de Filipos queriam ser o centro das atenções, Jesus queria que o único centro da atenção fosse Deus.

O discípulo de Cristo deve seguir o exemplo do SENHOR em humildade e servidão, em abrir mão de direitos e regalias para melhor servir a Deus, ao próximo e à igreja.

O discípulo de Cristo nunca deve buscar sua própria glória, senão a glória de Deus.

O discípulo de Cristo deve esperar com confiança pelo glorioso dia da exaltação. Maranata!

Pense nisso e que nos abençoe rica e abundantemente. Amém!

P.S.: Mensagem original do Rev Hernandes Dias Lopes - Pequenas edições (substituição de palavras e omissão de algumas frases) pelo Pr. Denis Frota, visando adaptar a mensagem ao estudo em grupos familiares.  Créditos ao autor da mensagem.