Os Desigrejados

05/07/2021

Introdução

Recentemente surgiu um movimento ideológico de cunho religioso, equivocadamente histórico e sistematicamente contraditório, conhecido como "desigrejados". A proposta "desigrejada" apela ao comportamento de oposição de seus integrantes à eclesiologia congregacional e institucionalizada pelas denominações evangélicas, provocando uma nova tendência: viver a fé sem nenhuma filiação denominacional. São pessoas que não se consideram desviadas ou excluídas do Reino de Deus, ainda que tenham optado por não se associar ou mesmo frequentar qualquer denominação de culto cristão.

O pesquisador Ricardo Mariano, da PUC-RS, declarou em entrevista à Folha (SP) que vem ocorrendo um aumento significativo de evangélicos sem vínculos institucionais. As pesquisas IBGE mostram que, entre 2003 e 2009, o número de fiéis que dizem não ter vínculo institucional saltou de 4% para 14%. Os dados das pesquisas mostram que de 2003 à 2009, seis milhões de evangélicos deixaram de se congregar em templos religiosos, ou seja, quase um milhão de evangélicos por ano; e tudo indica que este quadro de "desigrejados" por ano continua na mesma proporção.

A importância de se congregar em uma igreja local nunca foi tão negligenciada como acontece nos dias atuais. O "...costume de alguns..." de deixar de se congregar tem sido o motivo de frieza e de decadência espiritual na vida de muitos.

Os Diversos Grupos de Desigrejados

Os desigrejados podem ser classificados em diversos tipos e grupos. Há nesse meio até web cristão, ou seja, cristãos de igrejas virtuais, sem presença congregacional de qualquer tipo. Há vários grupos, entretanto, a postura dos diferentes grupos de desigrejados têm a mesma proposta: o desligamento dos cristãos da igreja institucional. Eles se posicionam contra as igrejas históricas, tradicionais, clássicas, pentecostais e recentemente instituídas como meras organizações de motivações puramente humanas.

Dentro do conjunto de desigrejados há pelo menos cinco pontos que todo grupo ensina e segue, a saber:

1-Proibição e repulsa a qualquer liderança eclesiástica formalmente instituída: pastores, bispos, presbíteros, diáconos, etc.

2-Repulsa a templos destinados exclusivamente a religião (igrejas, sinagogas, etc.). As reuniões são sempre fora de templos, geralmente nas casas.

3-Posicionam-se radicalmente contra qualquer forma de contribuição monetária praticadas pelas igrejas denominacionais como doutrina bíblica a ser observada pelos membros (dízimo, ofertas, coletas, etc.).

4-Posicionam-se radicalmente contra qualquer forma de nomenclatura as congregações (placas de igreja, nome de grupos religiosos, etc).

5-Posicionam-se radicalmente a contra qualquer tipo de título alcançado através de estudos de Teologia Sistemática ou similar (não admitem certificados de teologia, escolas dominicais, missões, estudos bíblicos, etc.).

Diante desses esclarecimentos prévios precisamos enfatizar duas considerações fundamentais nesta breve reflexão:

Em primeiro lugar é preciso deixar claro que os desigrejados não são, necessariamente, cristãos apóstatas. Na realidade, a maior parte é formada por cristãos que se decepcionaram com uma ou mais igrejas, decidindo viver sua fé fora de qualquer instituição religiosa. Muitas dessas pessoas oram, leem a Bíblia, seguem princípios morais básicos e conversam com as pessoas sobre Deus. E algumas têm por hábito se reunir em pequenos grupos cristãos informais e não hierarquizados. Outras, no entanto, não congregam de nenhuma forma, embora mantenham muitos princípios cristãos.

Em segundo lugar entendemos que os desigrejados, conscientes ou não, estão criando uma tendência teológica que pode vir a ganhar mais corpo e tornar-se um grave problema no futuro. As ideias propagadas pelos desigrejados atingem muitas pessoas que estão congregando regularmente em instituições formais, de modo que, a influência pode levá-las a vários comportamentos diferenciados e até mesmo o abandono de suas congregações, esfriamento na fé e decadência espiritual.

Os desigrejados adotaram um modelo diferenciado de espiritualidade, um jeito próprio de praticar a fé fora da congregação.

Eles dizem que não tem pastores e nem líderes hierárquicos. Vejamos:

Quando os desigrejados realizam uma reunião informal entre amigos, sempre existe alguém que fica encarregado de organizar a reunião: escolher o local, dia e hora e roteiro da programação; sempre há alguém que dá as boas vindas aos convidados e que acompanha o desenvolvimento da reunião.


Em cada reunião há sempre uma pessoa previamente escalada para dar a Palavra, ou estudo bíblico. Às vezes convidam um desigrejado de outro local com a missão de trazer uma palavra para os convidados. O mesmo acontece com o louvor; sempre existe alguém que toca violão e/ou canta que é escalado para ministrar o louvor, mesmo não usando o título de ministro de louvor ou levita.

O que concluímos? Que os desigrejados apenas mudaram a forma, os títulos ou até mesmo a nomenclatura tradicional ou clássica, mas a essência das reuniões congregacionais continua a mesma, com líderes e liderados.

Eles dizem que saíram da Igreja institucional porque testemunharam muitos escândalos nas denominações. Vejamos:

É fato notório que o ato de se desigrejar tem uma motivação saliente de descontentamento pessoal com a igreja institucional. Para justificar sua saída, o grupo de desigrejados sustenta que os escândalos nas denominações eclesiásticas e os desvios bíblicos do papel e da função da igreja, são a causa para tal decisão.

O problema de quem toma raiva de instituições formais é que uma raiva que deveria ser específica torna-se generalista. Sim, há problemas em instituições formais. Mas isso não prova que o problema são as instituições formais, nem prova que todas as instituições formais são problemáticas. Há congregações sérias e santas, dirigidas por santos homens e mulheres de Deus. Desse modo, a generalização dos desigrejados em considerar "todas congregações como farinha do mesmo saco" é insensata e falsa.

O fato da Igreja de Cristo transcender templos, liturgias formais e até hierarquias não leva logicamente à irrelevância desses. Ter um local específico para reuniões (templo), certa hierarquia de funções, uma liturgia organizada e um nome que facilite às pessoas a identificação das principais crenças de seu grupo cristão não é antibíblico. Antibíblico é quando a hierarquia se torna desculpa para autoritarismo; quando as pessoas se tornam dependentes do templo para adorar; quando certa liturgia ganha status de mandamento bíblico; e quando o nome da instituição passa a ser usado não para identificação de crenças, mas para divisão entre cristãos. Ora, tudo que apresentamos aqui são desvios e não a regra comportamental da congregação. E os desvios podem e devem ser corrigidos. É possível combater tais desvios com Bíblia na mão, oração e perseverança. O que não é justo é lançar todas as igrejas no mesmo balaio e passar a criticar tudo o que é um pouco mais sistematizado.

Os desigrejados, antes de formalizarem tais críticas, deveriam estudar a própria formação da igreja e o seu desenvolvimento ao longo dos séculos. Existe escândalo maior do que a traição de um dos doze apóstolos de Cristo? O que Jesus fez? O que os apóstolos fizeram? Abandonaram a igreja em formação? Pararam tudo, reinventaram a igreja ou seguiram em frente com a missão de evangelizar toda criatura, ser sal e luz neste mundo?

Sabemos que a eclesiologia bíblico-teológica não deixa ninguém com dúvidas quanto ao fundamento da igreja (Mt 16:18; 1 Co 3:11), sua composição espiritual e universal (Hb 12:23) e sua presença organizada como congregação local de cristãos (At 11:26).

Sabemos que a igreja de Cristo é composta por crentes que foram salvos por Ele em todas as eras e tempos. Aqueles que fazem parte da igreja de Cristo, em todas as eras e tempos, costumam reunir-se em uma congregação local, organizada com cultos, liturgias, ministérios, lideranças, testemunhos, contribuições, etc. (At 2:46,47; 1 Co 14:6; 6:1-6; 13:1-2; Ef 4:11-12; Hb 13:17; 1 Co 16:1; Rm 15:26; 2 Co 9:1-13; Hb 7:8; Lc 11:42).

A Nossa Recomendação

A nossa recomendação é que, em vez de modismos, continuemos com a tradição apostólica e dos primeiros cristãos:

E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração - At 2:46.

A Importância de se congregar

Na Bíblia, vemos que a primeira ocorrência de um local de adoração, foi com o povo de Israel, quando Deus os livrou dos egípcios. A ordem divina foi: "E me farão um santuário, para que eu possa habitar no meio deles" (Êxodo 25:8).

Mesmo sendo Onipresente, YHWH estabeleceu um lugar específico onde pudesse encontrar-Se de forma mais pessoal com seu povo: o Santuário. Em seguida, após serem abolidos os rituais do Templo, Deus instituiu a igreja como o lugar onde se encontraria com Seus filhos.

Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor (Sl 122:1).

Porque vale mais um dia nos teus átrios do que em outra parte mil. Preferiria estar à porta da casa do meu Deus, a habitar nas tendas da perversidade (Sl 84:10).

"A meus irmãos declarei o teu nome; cantar-te-ei louvores no meio da congregação; (Sl 22:22)


"O meu pé está firme em terreno plano; nas congregações, bendirei ao SENHOR." (Sl 26:12)


O Novo Testamento apresenta registros da existência do templo, e da necessidade de frequentá-lo, inclusive, o próprio Jesus deixa uma demonstração no capítulo 2 do livro de Lucas. Nos versículos 39 ao 49 vemos o exemplo de Jesus Cristo, com apenas 12 anos de idade, frequentando e ensinando no templo, tratando dos negócios de seu Pai Celeste. (Lc 2:46-49).


E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração - At 2:46.

Pedro e João subiam ao templo à hora da oração, a nona. - At 3:1.

E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus, o Cristo - At 5:42.

Aconteceu que, tendo eu voltado para Jerusalém, enquanto orava no templo, achei-me em êxtase - At 22:17.

Nos três primeiros capítulos de Apocalipse, lemos sobre as cartas de Jesus às 7 igrejas da Ásia, o que comprova que aquele povo se congregava.

O Congregar é uma necessidade vital na vida do crente.

Historicamente, biblicamente, fraternalmente e logicamente, o congregar-se em uma igreja local, pequena ou grande, tradicional ou pentecostal, clássica ou contemporânea, é uma necessidade vital na vida do crente.

Quando Hebreus diz "Não deixando a nossa congregação..." fica claro o mandamento de Deus para os crentes e isso não pode ser ignorado pelos fiéis.

Quando a Bíblia admoesta "... Não deixem a congregação ...", ela está admoestando para o nosso próprio bem. A verdade é que existe uma presença manifesta, um poder do Alto, uma unção espiritual que só pode ser provada na coletividade, quando os santos estão reunidos de comum acordo.

Conclusão:

Alguém poderá replicar e dizer: "Pastor conheço um homem de Deus que não se congrega e é uma bênção? Será que não podemos estar firmes com Deus sem frequentar uma congregação?

Amados irmãos, ainda que muitos respondam SIM à pergunta acima, sabemos na prática que essa condição de firmeza espiritual, quando existente, será apenas por um determinado tempo. O que acontece a uma brasa quando sai do fogo? Ela permanece acesa, mas por pouco tempo, pois ela vai esfriando e apagando. O mesmo se dá conosco quando saímos da igreja, vamos esfriando na fé e em seguida, apagamos. É muito mais fácil nos dedicarmos à adoração a Deus quando estamos em um lugar apropriado para isso. Mas, o mais sábio é não questionar ou tentar editar um mandamento de Deus. Se o ETERNO Deus já decretou sobre esse assunto eu não tenho autoridade para acrescentar ou retirar qualquer coisa. Cabe a mim obedecer o mandamento, ou não.

Pastor e quando a congregação é pequena e desmotivada, não é melhor ficar em casa? Não! Caso você sinta que sua a igreja está desmotivada, com poucos membros, saiba que Jesus está presente mesmo assim: "... onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles" (Mateus 18:20). Portanto, esteja firme no SENHOR, pois Deus escolheu a congregação local para encontrar-Se com Seu povo porque é ali que Ele quer nos instruir e abençoar. O SENHOR sabe também que o louvor enriquece a vida espiritual e que a comunhão entre os irmãos fortalece a fé e o ânimo de perseverar em seguir a Deus.

A nossa recomendação é: À medida que você percebe que o grande Dia se aproxima, faça como o salmista: "Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do SENHOR" (Sl 122:1).

Pense nisso e que Deus nos abençoe rica e abundantemente. Amém!